Seu nome tradicional é Panhpunu, é o nome da sua tjwa, sua avó paterna, e pertence à casa de seu pai.
Ao longo do tempo, participou das festas tradicionais de seu povo, recebendo também vários outros nomes da matri-casa de sua mãe e confirmando sua identidade. E mesmo hoje morando na cidade, ela carrega consigo toda a história seu povo, que perdura por gerações, e uma cultura que permanece forte.
Maial saiu da aldeia onde nasceu para se alfabetizar numa escola na cidade de Redenção do Pará. As escolas indígenas têm várias faces hoje. Podem ser uma mera imposição de modelos educacionais ou podem adotar métodos que não desprezam o pluralismo e a identidade cultural dos povos. Por isso, é preciso fazer uma distinção entre educação indígena e educação escolar indígena.
Ela deixou para trás seus parentes, seus amigos, mas não suas raízes. Foi uma decisão difícil e dolorosa, mas a certeza de que precisava dessa arma (educação) para lutar pelo seu povo era muito evidente. Sua referência mais forte para isso foram seus antepassados Kukamare, que lutaram fielmente para que seu povo não se extinguisse.
Existe o grande pré-conceito, que tira do índio que mora na cidade o direito de se intitular índio. Para muitos, índio tem que morar no mato, andar nu e usar arco e flecha. Infelizmente, ainda estamos muito limitados a entender e a respeitar a essência e a bagagem de cada um, além de saber que isso influencia diretamente no processo de construção do indivíduo, seja ele índio, negro, albino…
Além disso, é importante lembrar que a grande maioria dos indígenas que conseguiram formação não tiveram ajuda integral do governo e continuam não tendo. Os estudantes indígenas, às vezes, passam por dificuldade e preconceito nas cidades, mas, por compromisso com suas comunidades, insistem em adquirir ferramentas científicas e tecnológicas e isso os permite discutir de igual para igual com os governos um planejamento de políticas públicas indígenas condizente com a realidade.
Ainda hoje, Maial usa a pintura corporal e quem a pinta é a sua mãe, que ainda reside na aldeia, mas, de tempos em tempos, vem visitá-la na capital. Pra ela, a pintura é muito mais que uma expressão de beleza, é uma segunda pele que a veste de seu papel social, é a forma que ela encontra de ‘existir’ para a sociedade da qual agora faz parte e de manter suas raízes evidentes a quem permeia seu caminho.
A pintura Kaiapó tem um padrão autêntico e grafismos extremamente elaborados que representam formas abstratas. A simetria e a perfeição na execução dos traços são bastante surpreendentes e a infinidade de desenhos e estilos também impressiona.
Maial herdou uma luta para garantir a continuidade dos seus, isto é passado de avós e pais para filhos, seguindo tradições. Tinha forte consigo a ideia de que a luta seria árdua, mas totalmente necessária. Houve um choque gigante de cultura quando deixou a aldeia, não falava bem o português e teve muita dificuldade em se relacionar com as pessoas. Ela resistiu.
Anos depois, saiu da cidade de Redenção do Pará, cursou Bacharelado em Direito na Fiesc/Uniesp, Colinas/TO, e se formou no ano de 2015. Hoje Maial mora em Brasília e seu trabalho é totalmente voltado às questões indígenas.
Ressaltamos com a história de Maial o dinamismo da mulher enquanto guerreia. Diante de diversos preconceitos, longe de seu povo, de sua ambiência e de seus costumes, ela se manteve forte e convicta de sua luta.
Vencer a injustiça contra os povos indígenas, gerar oportunidades para promovê-los como tão bons artistas que são e dar voz sem distorcer a fala destes foi, sem dúvidas, o que impulsionou Maial nessa trajetória.
Sua maior preocupação hoje é a falta de reconexão dos jovens com os mais velhos. Para ela, andar lado a lado ressignifica seu percurso e a estimula a fazer pelas próximas gerações, afinal seus antepassados lutaram muito para que hoje estivessem aqui, saudáveis e respeitando todas as formas de vida em nosso planeta.
Sua estação é o verde.
Usamos o cenário como uma maneira de a reconectar ao seu lugar e de alguma forma massagear a falta do seu povo e cultura. Ali, ela se relaciona com o que te dá força: água, terra, mato, rochas e uma luz que reflete sua origem tingidos na pele.
Sou presenteada constantemente com esse projeto, pelas historias que são compartilhadas. Cada trabalho é um aprendizado. Tivemos alguns percalços no caminho, mas o compromisso de tornar as histórias notáveis são sempre superiores.