Indecisa, Insegura e Inconstante.
Geminiana, 26 anos, assistente social formada pela UNB e vegetariana a alguns meses.
É o tipo de pessoa que se importa com tudo que diretamente a cerca, é otimista e sempre adormece com a certeza de que o amanhã será melhor.
É adepta do amor. O amor gratuito, genuíno, do amor que contribui para a vida dos que nada tem.
Falamos sobre medo, e o maior medo dela é perder os seus, em especial sua mãe, a quem devota uma admiração imensamente linda.
A mãe é a típica ilustração de mulher guerreira, forte e resiliente, que tentou de todas as formas salvar um casamento pensando nas filhas, mesmo sendo subjugada constantemente, passando por agressões, traições e dificuldades financeiras.
Ela e a irmã presenciavam esse contexto com frequência e isso refletiu na sua autoestima posteriormente. As lembranças do pai diminuindo a mãe e a comparando com outras mulheres vem facilmente à memória dela.
Para ela, não conseguir se ver/sentir bonita hoje, tem ligação com isso.
Eu tenho recebido muitas histórias de mulheres com padrões corporais relativamente aceitos pela sociedade, mas que não conseguem se enxergar bonitas, mesmo não tendo ‘defeitos’.
Mesmo que quisesse muito, não tenho condições de propiciar a todas elas uma experiência fotográfica, com o intuito de mostra-las o contrário. Infelizmente.
Sendo assim, a Samara chega no projeto para ilustrar todas essas histórias, e além disso, para alertar acerca dos transtornos relacionados a esses complexos e que despercebidamente são ignorados.
Desde o surgimento do capitalismo e seu princípio fundamental de vender, a imagem se tornou mecanismo de comércio. Existe um tênue limite que muitas vezes não é percebido a tempo de virar uma obsessão.
Essa compulsão por atender padrões de beleza impostos pela mídia e pela sociedade tende a ocasionar problemas de saúde; desde psicológicos, como depressão e ansiedade causados por parte de quem não se sente pertencente ao modelo “ideal”.
Ainda adolescente, ela se sentia gorda, não conseguia se gostar. Parava de comer repentinamente e as vezes passava até 3 dias sem colocar nada na boca. Felizmente, por cautela da mãe que percebeu logo no inicio o comportamento peculiar, isso não se agravou até uma anorexia.
Após acompanhamento psicológico, foi diagnosticada com TDC – Transtorno Dismórfico Corporal – que é uma condição psicológica caracterizada pela preocupação exagerada com a aparência. Pode ser pontual, com alguma parte especifica do corpo ou com o corpo inteiro.
Os sinais são vários, mas entre eles o mais evidente é uma vaidade explicita no sentido de corrigir o suposto problema e a falta de autoestima. O problema é percebido pelo individuo como uma coisa enorme e para os outros como algo imperceptível, o que deslegitima o sofrimento. A invalidação é recorrente. E é o que mais leio nos relatos que recebo.
A Samara é branca, tem traços considerados finos, magra e cabelo liso e para a maioria das pessoas é como se a somatória de privilégio a impedisse de ter sua autoestima abalada. É como se fosse uma violação reclamar e se sentir mal com o corpo e aparência que tem.
Na maioria das vezes que isso é exposto por elas, gera uma ridicularizarão por parte de familiares e amigos e de novo voltamos a invalidação do sofrimento.
A consequência disso é o isolamento social, o comportamento evitativo e o constrangimento em dividir a aflição com outras pessoas e isso inclui profissionais de saúde que certamente poderiam colaborar com o tratamento.
A Samara pausou o tratamento psicológico, mas pretende retomar, pois acredita por experiência própria que os sentimentos voltam com muita intensidade de tempos em tempos.
Tivemos uma certa dificuldade para achar sua estação. Desde que veio pra Brasília, não consegue identificar nenhum local que a tenha marcado, mas ficou explicito que a natureza num todo tem um lugar especial no seu coração, porque a remete a infância vivida no interior.
Escolhemos o claro, o límpido.
Foi especial para mim retrata-la ali! Envolta a uma multidão de pezinhos de algodão, toda entregue, radiante e divertida!
Aplicada naquele contexto, ela se torna parte de um todo, de tudo que a compõe, criando uma unidade. Para mim, é como se ela fosse um algodão singular no meio daqueles todos.
A Samara é uma mulher singela, íntegra e esforçada. Endereça todas as suas energias em busca dos seus objetivos, e tem uma gratidão enorme por cada conquista que atinge, mesmo as menores.
Dona de uma gargalhada engraçada que me fazia ter vontade de gargalhar junto o tempo todo.
É apaixonada pela vida. Acredita fielmente que a vida é frágil e é valorosa por todo tempo que tem disponível para usufruir da presença dos seus.
É saudosa pela infância, pela vida rústica que tinha antes de se mudar para cá. De passar férias com as primas na fazenda da tia, ver o sol nascer e andar a cavalo.
Hoje, mulher mais madura, ela entende que se aceitar é um processo e tem aprendido a gostar de cada pedacinho do seu corpo, cada dobrinha que antes era vista como descomunal.
Meu proposito aqui é que ela se enxergue da forma como eu e todos que a cercam enxergam. Uma mulher incrivelmente linda, admirável e encantadora.
03/08/2018